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Sons of Anarchy: família, honra e sangue, por Gabriel Paes de Barros

Ultimamente eu tenho reparado que roteiros ficcionais têm mudado um pouco na perspectiva com que se conta uma história. O foco que outr...


Ultimamente eu tenho reparado que roteiros ficcionais têm mudado um pouco na perspectiva com que se conta uma história. O foco que outrora era no lado individual de um personagem claramente protagonista, abre alas para uma ficção que busca ao máximo fornecer subsídio social para o desenvolvimento de uma história que rompe com as barreiras introspectivas. Quando essas barreiras são superadas, as classificações de conceitos como bom e mau, certo e errado, protagonista e antagonista ficam estranhas ao público. E nessa onda de contextualização profunda, alguns gênios aparecem para dar vida a sociedades extremante complexas e verossímeis.

Este é o caso de Kurt Sutter.

Esta é a história de Sons of Anarchy.

Atenção: spoilers.

Se em uma conversa informal sobre a vida alguém me perguntasse o motivo de eu amar tanto Sons of Anarchy, eu não saberia dizer. Na verdade, há alguns dias venho tentando escrever este texto. Ora não tenho tempo, ora não consigo sintetizar o que penso da série.

Sons of Anarchy é como alguns fones de ouvido que vão se entrelaçando e formando um emaranhado tão complexo que, olhando de qualquer ângulo, parece impossível de ser desfeito. Cada personagem é responsável por mais de um nó desse fone. Desde os principais, como Jax, Clay, Gemma e Tara, até os secundários, como Chibs, Tig e Opie.

Quando eu ia escrever reviews, eu costumava separar meus comentários por personagem. Depois passei a desenvolver o texto em ordem cronológica. A estrutura de SoA torna insuficiente esses dois recursos. Como o contexto cultural do clube é bem definido, algumas ideologias são recorrentes nas mais diversas relações. Nessas ideologias, então, que vou pautar o texto.

Honra

A premissa é sobre honra. Jax encontra velhos rabiscos do falecido pai, John Teller, nos quais ele se mostrava um tanto arrependido do rumo que o clube havia tomado. Esse vai passa a ser, então, o norte da série.

Para meus filhos, Thomas, que já descansa em paz, e Jackson, que ele nunca conheça esta vida de caos.” – Dedicatória de John Teller 

Em honra ao pai, Jax é levado a se esforçar para que Abel, seu primogênito, não conheça a vida de caos que inevitavelmente ele conheceu. Em honra ao clube, ele não pode simplesmente sair para proteger o filho. 

Família e Clube


Família e clube são tópicos indissociáveis. Ambos os temas são trabalhados explicitamente da série e de uma maneira fantástica. Como uma old lady, a Gemma nunca escondeu que tem para si que seu papel é cuidar da família. E ela desempenha esse papel como ninguém.

No decorrer das temporadas vemos que família para ela vai além dos laços de sangue. O modelo de família, para Gemma, abarca um envolvimento profundo de dedicação com o clube. Recentemente Nero propôs que eles fugissem para algum lugar longe da violência advinda dos laços que os Sons estabeleciam. Ela achou um absurdo sem tamanho. Essa relação de família com o clube é tão evidente que os integrantes mais íntimos, como o Tig e o Chibs, a chamam de “mama”.

Na Season Finale da sexta temporada a necessidade de manter a família e o clube nos eixos a levou a medidas cujas consequências são impossíveis de prever com exatidão. O episódio chamado A Mother’s Work começa com a mama cuidando da casa, lavando louças. Na mesma pia que quarenta minutos depois ela estaria cuidando do seu lar, matando a Tara de uma maneira que apenas os maiores fãs de ultraviolência poderiam imaginar.

A família tem andado lado a lado com a vida e a morte. Se por um lado ela só é composta de membros vivos, por outro isso pode custar a morte de outros. Além do caso da Tara, tivemos o do Opie também. O gigante barbudo foi o maior exemplo de lealdade ao clube e, no final, a quem tinha como irmão, Jax.

Ódio

Sons of Anarchy tem uma discussão muito forte a respeito de alguns sentimentos. Ódio tem sido o mais frequente deles.

É difícil não odiar. Pessoas, coisas, instituições. Quando eles quebram seu espírito e têm prazer em te ver sangrar, ódio é o único sentimento que faz sentido. Mas eu sei o que o ódio faz com um homem. Dilacera-lo. Transforma-o em algo que ele não é. Em algo que ele prometeu nunca se tornar.” – Jax, 5x05

Quando, mais acima, eu disse que Sons of Anarchy rompe com as barreiras introspectivas e considera o contexto ambiental dos personagens, eu estava respaldado exemplos como este. A ficção costuma tratar pouco dos sentimentos e mais de comportamentos externos. Se querem mostrar ódio, mostram um assassinato; se querem mostrar amor, mostram um relacionamento; se querem trabalhar tristeza, o personagem chora. Kurt Sutter trabalha as coisas de uma maneira diferente. Tudo parece ser uma bomba que vai estourar a qualquer momento. Você vê como o personagem vê, você sente como o personagem sente. 

Eu sinto muito ódio vendo SoA.

Ódio do Clay.

Ódio da Gemma.

Ódio do Juice.

Ódio do Jax, do Pope, do FBI, do Cartel, do Real IRA, do Gaalan. Ódio, ódio, ódio! No entanto, Gemma vive, Juice também. Não houve vingança contra o FBI, nem contra o Cartel. As vontades dos personagens raramente condizem com suas possibilidades. Sentimentos como o ódio, por exemplo, têm que ser retratados de alguma maneira mais subjetiva, através de mais inferência. Kurt Sutter mostra como alguns desejos são, por vezes, incompatíveis com a realidade. Até mesmo na ficção.

Violência


Este é o tema que mais me agrada. Eleito pelo Los Angeles Times a série mais violenta em exibição, Sons of Anarchy culmina todo o amor, ódio, família, clube, irmandade e paz em violência. 

Gemma sendo estuprada, Juice matando Miles, Otto cortando a própria língua fora, Jax esmagando a cabeça do assassino do Hale no asfalto, Tara sendo morta, Opie sendo morto, o atropelamento de um dos caras do Nero, a morte do Pope, do Gaalan... Eu perderia linhas e linhas com vocês relembrando os momentos violentos da série. São momentos que se encaixam perfeitamente na história, não sendo, portanto, recurso barato de audiência.

Trilha Sonora

SoA casa perfeitamente a estrada solitária com ritmos como Blues e Hard Rock. Não tem como separar as variáveis aqui. A junção da história, cenas e música te fazem ir da tristeza ao total êxtase, mas não vou divagar neste ponto. 

Falar sobre a qualidade de músicas seria como descrever a reação química que produz o cheiro de uma carne assando. Por mais acurada que seja minha explicação, não chegará nem próximo de uma experiência in vivo

Então, como dica de despedida, deixo este site com a lista de todas as músicas já usadas como OST no seriado: www.tunefind.com/show/sons-of-anarchy



Guest Post Este texto foi escrito por um brilhante e ilustre autor convidado, e faz parte de uma série de posts sobre as séries favoritas e os danos que elas causam no coração da gente.

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O Autor
Gabriel Paes de Barros é de Cuiabá, tem 20 anos, é behaviorista, estudante de psicologia e atraído por ultra-violência. Sua série favorita é Sons of Anarchy e dela escreve reviews para o Loggado. Gosta também de escrever contos e guardá-los em Palavras Vadias. Não recusa uma boa conversa sobre séries e filmes no Twitter, onde atende por @Gabrielbarros42.

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Postar um comentário Comentários via BLOGGER (2) Comentários via DISQUS

  1. Gabriel, é um grande prazer ter sua participação aqui :smile:

    Texto perfeito para uma série perfeita. Não podia ter uma combinação melhor.
    SOA realmente é tudo o que você disse, um drama tão enraizado em honra, família e sangue que transcende qualquer limite de racionalidade. Eu amo Sons of Anarchy, e me sinto muito feliz ao encontrar pessoas que a amam também.

    Adorei especialmente esta comparação: "Sons of Anarchy é como alguns fones de ouvido que vão se entrelaçando e formando um emaranhado tão complexo que, olhando de qualquer ângulo, parece impossível de ser desfeito." Puríssima, puríssima verdade.

    Muitíssimo obrigada por compartilhar sua brilhante escrita com meu blog.
    Sinta-se convidado para fazê-lo novamente a qualquer tempo!

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  2. Sons perfeita me apaixonei desde o 1 ep,intensa muito intensa a melhor.

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