Breaking bad - 4x04/05 - Bullet Points / Shotgun

Enquanto escrevo este texto ouço a excelente 1977 de Ana Tijoux, música tema de Shotgun, e penso em como fazer uma review de Breaking Bad sem elogiar a perfeição da série. Não dá, simplesmente não dá. Ela é bem feita demais, impecável. Atuações, direção, fotografia, roteiro, cada milissegundo extremamente planejado. Como não elogiar isso? Impossível. Repito: impossível. 

Já falei aqui várias vezes que Walt desligou o cérebro nesta temporada. Não só em relação a ele mesmo, Jesse e Gus. Agora também com Hank e Skyler. Em Bullet Points Walt descobriu que seu cunhado estava ajudando a investigar o assassinato de Gale e ficou completamente apavorado. Correu atrás de Jesse tentando compartilhar o desespero e, finalmente quando Hank diz “Parei com a investigação”, Walt dá para o cunhado a isca da volta.

Como assim?

Skyler está tentando a todo custo unir novamente sua família. Ela guardou dentro do armário a esposa bobinha e deu vida à mulher proativa. Escreveu um teatrinho para salvar a pele de Walter diante de Marie e Hank, o perdoou, dormiu com ele, praticamente o intimou pra voltar para casa, entrou no esquema da lavagem de dinheiro, quase se revirou para conseguir comprar o lavajato, e de repente o cara diz para quem ele mais devia temer: “continue procurando, você ainda não encontrou seu gênio”?

Como assim?

Isso foi por causa da bebida ou pelo ego ferido por Gale levar a fama de gênio? Não, não pode ser. É estupidez demais.

Agora voltando ao Jesse e Gus: mais uma vez o desespero tomou a frente da racionalidade na cabeça de Walt. Desse jeito ele não vai sobreviver. Não vai mesmo. Gus provou pela milionésima vez que no jogo é ele quem manda. Ir num fast food com uma potentíssima 38 e uma cara de quem acabou de ver um defunto não é atitude de Fring nunca. Manipulação que é com ele.

Jesse está nas mãos do patrão agora. Toda aquela armação para que ele se sentisse um “herói” não serviu para nada além de distanciá-lo de Walter. Jesse é amado como um filho por Walt, mas também é tratado como um tolo por ele na maior parte do tempo. Agora que se sente importante ao lado de Mike e como um “segundo homem” para Gus, que lado ele escolherá quando o chefe tentar substituir Walt? Será que o premiado substituto também não poderia ser Jesse? 

É, todas as peças do jogo estão finalmente na posse de Gus. Não que Walt não saiba disso, mais ainda assim parece que o cérebro dele está desligado mesmo.

E como não podia ser diferente, Hank mordeu a isca e voltou com todo vigor para a investigação. Se antes ele olhava só um caderninho com florzinhas desenhadas no topo, agora ele tem uma caixa lotada de evidências. Observador como é, logo encontrou uma embalagem do Los Pollos Hermannos na casa do vegetariano Gale e ficou bem intrigado com isso. Bom, pelo menos aponta para Gus. Mais nunca que isso seria motivo de comemoração. 

Hank é um excelente policial. E com todo tempo e experiência que tem, ele vai eventualmente encontrar pistas para seu gênio, seu W.W. Ou seja, Walt vai ter um Gus e um Hank para se livrar… 

Se livrar? Meu Deus do céu! 

Alguém fala para este homem religar o cérebro, por favor?


Observações:

- Gus está ausente nos episódios, mas sua presença é constante e praticamente apalpável. Dá pra entender isso? Não. É Breaking Bad.

- Parece que Walt não está muito animado em voltar a morar com Skyler... será que ele gostou tanto assim dos ares da independência?

- Skyler pediu um novo casamento, só que desta vez pediu um sem mentiras. Com o mesmo marido? Pobre Skyler...

- Jesse estava no maior "I don't give a shit". Terminou Bullet Points dando os ombros para Deus e o mundo. Porém perto da noção da morte ele já virou o disco. E assim como a trinta-e-oitíssima de Walt, certamente o molho de chaves dele resolveria todos os problemas...

- A mensagem de despedida de Walt acabou soando como uma declaração de amor aos ouvidos de Skyler. Ela tem certeza de que quer verdades mesmo?

- Palmas para Bryan Cranston, Aaron Paul e Jonathan Banks. O trio Walt, Jesse e Mike não deixaram nada nada a desejar.